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Alimentação: Uma reflexão do processo histórico


A alimentação de uma população reflete diretamente no tipo de solo que o seu território possui, a mão de obra disponível para cultivo e seu poder econômico para obter alimentos que não são propícios ao seu tipo de solo. Porém a alimentação no contexto mundial atual se tornou um reflexo puramente político-econômico, acarretando a escassez de alimentos para os países subdesenvolvidos gerando fome e desnutrição.


Contudo, será que a alimentação sempre foi um reflexo de poder? Desde os primórdios os mais alimentados eram os mais evoluídos (seguindo o princípio de Darwin)? O objetivo do estudo ao qual se baseia essa resenha foi compreender onde nasce essa relação, fazendo um panorama da alimentação mundial ressaltando a importância das interações e intercâmbios dos países.


Nos primórdios da Idade Antiga foi estabelecida uma alimentação baseada em cultivo e caça, ate que os condimentos foram sendo descobertos e difundidos como maneira para mantimento e tempero, assim, os condimentos também têm sua significação na história da alimentação humana. O homem primitivo, como o atual, desejava alguma coisa além do alimento em si; foi o sabor que desenvolveu a arte de comer e a de beber (SAVARIN, 1995).


Durante os séculos tormentosos da Idade Média, houve um aperfeiçoamento lento dos modos de produção de alimentos. A alimentação não se desenvolveu, ocorrendo, ainda, um recuo às práticas primitivas, principalmente relacionadas às épocas de penúria e fome. Um influxo de plantas comestíveis importantes para a Europa ocorreu quando os árabes invadiram a Espanha em 711. Nesse tempo os invasores sarracenos levaram arroz para o sul da Europa, além de outros alimentos vegetais, frutas, condimentos e a cana de açúcar; Assim se data os primeiros históricos de trocas comerciais alimentares, promovendo (ABREU, 2000):


- O aparecimento de novos produtos;

- A renovação de técnicas agrícolas e industriais;

- As descobertas sobre fermentação;

- A produção do vinho, da cerveja e do queijo em escala industrial e o beneficiamento do leite;

- Os avanços na genética permitiram sua aplicação no cultivo de plantas e criação de animais;

- A mecanização agrícola;

- E ainda o desenvolvimento dos processos técnicos para conservação de alimentos.


O crescimento demográfico, industrialização, urbanização, muda o consumo e o estilo de vida, favorecendo o sedentarismo, a restrição da necessidade de gasto de energia para as atividades diárias e para o trabalho, além de facilitar o consumo de alimentos prontos e de alta densidade energética aumentado os problemas de saúde como a obesidade, a hipertensão e alguns tipos de câncer. A urbanização traz consigo as infecções advindas de água e alimentos contaminados (COMITÉ NACIONAL DE LOS ESTADOS UNIDOS, 1992).


O alimento está disponível, mas não é acessível para milhões de pessoas que não têm poder aquisitivo nem terras. O excedente global de alimentos não se traduz em segurança alimentar. Mais de 100 países do mundo são importadores de alimentos, portanto não são produtores daquilo que consomem. No caso de alguns, essa importação tem pouca importância, mas no caso de outros como, por exemplo, Bangladesh, Etiópia e Haiti certamente este fator influencia muito a manutenção da pobreza e da fome (COMITÉ NACIONAL DE LOS ESTADOS UNIDOS, 1992).


Como demonstrou-se, a cada época uma região desenvolvia seu padrão alimentar em função da disponibilidade de alimentos acessíveis à população. Esses alimentos eram adaptados à culinária regional. Duas tendência se desenvolvem na intenção de obter alimentos para o futuro. A primeira, tradicional, se baseia em produtos primários e, concede prioridade à agricultura, recomendando a contenção ou parada na industrialização. Ao esforço de prover alimentos para o futuro, há uma segunda tendência que se encaminha para fórmulas industrializadas: alimentos "de conveniência"; alimentos "desenhados"; alimentos sintéticos; proteína texturizada a partir de oleaginosas ou produtos de cereais processados e apresentados em formas variadas; concentrados ou isolados (NEUMANN et al.,2000).


O estudo da alimentação é um elemento para o entendimento da sociedade e de seu desenvolvimento (GARCIA, 1995). Os hábitos das pessoas de todas as partes do mundo têm sido influenciados por convicções e valores culturais, religião, clima, localização regional, agricultura, tecnologia, situação econômica, etc. Consequentemente, os hábitos alimentares variam de país para país e de região para região dentro de um mesmo país (MEDVED, 1981).


A forma de vida de cada grupo é identificada como cultura. Uma cultura pode ver o alimento como uma forma de saciar a fome e outra como uma fonte de prazer e oportunidade de socialização. A família, a igreja, a escola passa a prática cultural de uma geração para outra. Cada pessoa seleciona e consome alimentos baseada nesse guia cultural (MEDVED, 1981).

A preocupação em relação à distribuição de alimento ocupa lugar de destaque nas discussões mundiais, mas ainda não se chegou a uma política mundial conjunta que seja capaz de resolver esse dilema (COMITÉ NACIONAL DE LOS ESTADOS UNIDOS ,1992).


É fundamental que sempre se analise a alimentação, seja em nível individual, regional, nacional ou mundial de forma crítica.

A reflexão sobre essas questões poderá significar um primeiro passo na busca de entendimento sobre a problemática que envolve a alimentação mundial. O fato é que não é mais possível 'pensar' o mundo por partes, quando o problema a ser resolvido estiver relacionado com a alimentação, principalmente com o advento da globalização.

Referências Bibliográficas:

http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0104-12902001000200002&lang=pt

COMITÉ NACIONAL DE LOS ESTADOS UNIDOS. La nutrición: los lazos entre alimentación, salud y dasarrolo. Washington D.C. 1992. [Documento preparado para la Teleconferencia del Dia Mundial de la Alimentación, 16 de octubre de 1992]

SAVARIN, B. Fisiologia do gosto. Trad. P. Neves, São Paulo. Ed. Companhia das Letras, 1995.

ABREU, E.S. Restaurante "por quilo": vale quanto pesa? Uma avaliação do padrão alimentar em restaurantes de Cerqueira César, São Paulo, SP. São Paulo, 2000. [Dissertação de Mestrado - Faculdade de Saúde Pública da USP]

NEUMANN, A.I.C.P., ABREU, E.S. & TORRES, E.A.F.S. Alimentos saudáveis, alimentos funcionais, fármaco alimentos, nutracêuticos... você já ouviu falar? Rev. Hig. Aliment. 14(71):19-22, 2000.

MEDVED, E. The world of food. Lexington, Ed. Ginn and Company, 1981.


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